Quando os lençóis falam.

Caros Raquel e Manuel, quando fomos adquiridos, seja por uma senhora amorosa, seja por vocês ou por amigos queridos, ganhamos a energia do amor. Nascemos para embalar um sono higiênico e restaurador de filho e netos muito amados, de um pai e uma mãe cansados pelo dia na labuta ou no aconchego da casa de vó. Nascemos também para suavizar os corpos de casais apaixonados durante a dança do amor. Alguns de nós chegamos a vocês como presente, com todo amor que este ato contém. Por algum tempo fomos felizes, vivendo nossa nobre missão. Mas depois ficamos perdidos. A alegre senhora que cuidava de muitos de nós, foi embora… Desde então, ficamos dobrados, guardados, sem uso… Ganhamos manchas amareladas pelo desuso, palavra não feita para nós. Afinal, nascemos para servir. E agora, um lampejo de esperança nos invade a alma… Estamos sendo manuseados e o universo nos conta que seremos usados outra vez. Mal podemos esperar para sentir o peso de um corpo sobre nós. Ou dois corpos. Seja uma criança dormindo, ou um casal se amando, sentimos que renasceremos para uma nova vida, vida de servidão que nos faz bem. De quebra, ganharemos banho, ganharemos sol e vento quando estivermos secando nos varais. Ganharemos vida outra vez. E por esta oportunidade, queremos lhes agradecer.

Mensagem recebida por mim, dia desses, enquanto manuseava lençóis há muito guardados, com o objetivo de doá-los.