Garimpos de cassiterita

Gostou do post passado? Tá interessado em mudar seu ramo para a extração mineral de cassiterita? Vou te explicar como funciona, então.

Primeiro a PC, essa prima da retroescavadeira aí na foto, faz um buracão; ela retira a
terra que está por cima da camada de cascalho que contem cassiterita, e dá uma boa
adiantada no trabalho, que levaria semanas se fosse feito no muque.

Depois, enquanto a PC vai ali pro lado cavar um novo buracão, dois ou três homens
lavam a terra, ou o cascalho, com fortes jatos de água.

Nesse processo vai-se formando uma lama, que é absorvida por uma mangueirona grossa, tocada a bomba, claro, que leva essa lama prá um máquinha chamada Dig, se não me falha a memória.

Dig está um buraco mais acima, o último que foi explorado. Através de vibração e pela
diferença de peso, essa máquina separa a cassiterita de um outro metal, que eles
chamam de ferro, e o excesso de água é jorrado no buraco recém explorado e que daqui
a pouco vai virar um lago.

O “ferro” (acima, no monte e na minha mão) sai por uma torneirinha e a cassiterita, mais pesada, vai se acumulando no fundo da DIG. Depois abre-se a segunda torneirinha e a
cassiterita sai. Esse último processo eu não vi. Não sei como drenam o resto de água
que está misturado ao minério. Mas drenam, e depois a ensacam e vendem.

Ganham dinheiro, uns o investem, outros o gastam até ele acabar, e vão pro buracão mais de cima, começar tudo de novo. E os lagos vão se formand0.

Recentemente eu soube que há um outro tipo de processo em Campo Novo, que é subaquático. Os garimpeiros mergulham e extraem, com grossas mangueiras, a areia do fundo do rio. Do lado de cima essa areia é lavada e o metal, separado. Esse garimpeiros mergulhadores ficam 4 horas debaixo d’água, se não me engano. Aí são substituídos por outros. Não tenho fotos dos garimpos que trabalham assim.

Abaixo algumas fotos das acomodações. Muitos dos garimpeiros dormem aí, alguns com barracas de camping modernas dentro dos barracos, e cada local tem a sua cozinha e cozinheira.

Enfim, esse processo de extração mineral me parece bem prejudicial ao meio-ambiente. Eles só podem escavar em áreas de pasto, já desmatadas, e as lagoas têm que ser bem represadas prá não contaminar os rios, mas é claro que nem sempre essas duas coisas acontecem. Mas eles não são bandidos, pelo menos em sua maioria. São pessoas de bem que estão trabalhando naquilo que sabem, que lhes rende dinheiro, justamente porque existe mercado prá isso. O estanho serve prá muitas coisas, entra no processo industrial de quase tudo, além daquelas ricas e lindas taças de vinho que a gente compra em São João Del’Rey.

Na foto acima procurei reunir duas coisas que existem em abundância por aqui, e não
têm valor nenhum. O “ferro”, esse sub-produto da extração da cassiterita, e o babaçu,
que tem demais em Rondônia inteira, produz um coco que faz um bom carvão e uma
polpa que pode ser usada prá fabricar biodiesel. Eu não compreendo porque ainda não
agregaram valor financeiro ao babaçu. Muitas das queimadas são prá eliminar
justamente essas árvores do pasto, que são tidas como praga pelos criadores de gado. É
certo que rondoniense não combina bem com extrativismo vegetal, mas combina com
lucros. Por que ninguém encontra uma viabilidade econômica para o babaçu é o que
sempre me pergunto. Quanto ao “ferro”, disseram-me que já foram feitos estudos
diversos, e que não há mesmo viabilidade econômica prá ele.

Até aqui vocês viram fotos de dois ou três garimpos em Campo Novo. Deve haver mais uma centena desses lá. Abaixo são fotos de outros dois garimpos, que visitei em julho de 2010. Ficam na Floresta Nacional do Jamari (FLONA Jamari), em Itapõa do Oeste. São plantas enormes, de empresas que exploram a região há décadas, com maquinário pesado. As fotos não são todas minhas, mas infelizmente é impossível dar o crédito devido. Éramos muitas pessoas, e as fotos se misturaram num mesmo arquivo.

O primeiro deles só vi de longe.  Se não me falha a memória, foi antigamente da BRASCAN, multinacional Brasil-Canadá, e hoje é operado pela ERSA – Estanho de Rondônia. Eu visitei a área de recuperação ambiental que a BRASCAN desenvolve ao lado, onde antes explorou o minério. Eles fazem um trabalho super difícil e interessante de recuperação ambiental. Trabalho lento, profissional, e com boas consequencias a longo prazo para a natureza.

O próximo é o Garimpo Cachoeirinha, que em julho estava interditado pelo IBAMA, mas hoje já deve estar liberado. Após a Licença do IBAMA, será (ou está sendo) operado pela Metalmig. Quando fomos havia vestígios de pessoas trabalhando manualmente lá, mas se esconderam, pois estávamos com a Polícia Militar.

Pense na consistência do chão em que a gente pisa!

Abaixo, uma cena muito bonita, mas triste, porque mostra um leito de rio quase morto, sem água, numa época em que os grandes rios da região ainda estavam bem cheios (a foto foi tirada em julho de 2010). A garimpagem desordenada vai assoreando os rios e matando-os, aos poucos, mas rio morto na Amazônia é o fim da rosca, não é?

Alguns outros clicks do Garimpo Cachoeirinha

Ainda tem o Garimpo Bom Futuro, em Ariquemes, mas este virá no próximo post.

24 comentários em “Garimpos de cassiterita

  1. Bem interessante….se não fosse o prejuízo ecológico provocado por este tipo de garimpo. Mas, este brasilsão ainda não conseguiu se ajustar com a natureza…Inteligencia e grana existem.

  2. O que me incomoda não é tanto o que o garimpo faz com o meio ambiente, quanto a omissão do estado que deveria impedir esta devastação, o que o torna conivente quando deveria ser regulador. Como bem disse o P ops… o Rogerio, o que falta não são recursos financeiros, nem conhecimento ou tecnologia, mas vontade política. Muita$ coi$a envolvida$, entende?

  3. Quequel, acho que você está na profissão errada. Ou não. O que importa é que o resultado é fantástico: artigos de bom conteúdo, extrema sensibilidade e leitura agradabilíssima!
    😀

  4. É Colafina, a Raquel está nos prestando um grande serviço com essa “brincadeira” de jornalista!
    Quequel, todas as formas de extração mineral são criticadas sobretudo o garimpo sub-aquático por causa das más condições que os mergulhadores trabalho e também pelos acidentes que têm um índice bem alto. Me lembro de ter assistido há muito tempo mais que uma reportagem sobre isso, e tudo continua na mesma.
    Na minha opnião não é só a omissão do Estado que é o problema, mas também a demanda que nós mesmos provocamos. Quem é que quer deixar de consumir tal e tal coisa pensando no impacto que a fabricação causa no meio ambiente?

  5. No livro Trabalhadores do Sebastião Salgado, entre tantos exemplos, o que mais me chocou foi a extração de enxofre natural num vulcão da Indonésia, é mais que desumano, só dá para acreditar porque está documentado.
    E para que serve esse exofre? Entre outras coisas para a destilação do açúcar, a conservação de alimentos e do vinho!
    Quem vai diminuir ou até deixar de consumir esses produtos pensando naqueles miseráveis?
    E o carvão? Quem está disposto a fazer menos churrasco?

    1. Pois é Fátima, quem está disposto a mudar? Poderíamos continuar fazendo churrasco, pelo menos aqui em Rondônia, usando como carvão os cocos do babaçu, que há em abundância por aqui. Não deve ser uma alternativa única e definitiva para o uso do carvão, mas é uma possibilidade a ser explorada. Não podemos ser simplesmente românticos, temos que pensar em viabilidade econômica, economia de escala e todas essas coisas que sei que existem (mas nunca vi), e os governos poderiam fazer a parte de estimular iniciativas mais sustentáveis, assim como pesquisas que transformem métodos produtivos insustentáveis. Alguns países fazem isso, o Brasil muito pouco ainda.

      1. Já pensou se descobrem um processo altamente anti-ecológico na fabricação de cerveja? Teríamos que pedir prá parar o mundo que queremos descer.

  6. Pois então, vejam como estamos anos luz de um modelo ambiental sustentável neste país!!!!KKKKKKK sei que não é para rir, mas chorar ou ficar indignada, não seria mera hipocrisia?!

    1. Rosyyy, minha querida companheira de república, nos tempos da facul, bem-vinda!
      Adorei sua pergunta.
      E então, meus outros queridos comentaristas, o que acham da pergunta da Rosyelle? Enquanto a Quequel aqui não posta coisa nova, vamos discutir as velhas (nem tão velhas assim)

  7. Não sei pq pararam os comentários…a situação não mudou em um mês…
    mas sei que algumas pessoas estão tratando destas questões mais proximamente, buscando junto aos responsáveis econômicos alguns benefícios para a comunidade desta região. Se não pudermos mudar o sistema, vms usá-lo na diminuição das diferenças sociais.

    1. Leonardo, os comentários pararam por dois motivos: um é que, em geral, comentários são feitos no post mais recente; o outro, que talvez explique a pequena quantidade de comentários que temos aqui, é que os meus leitores são amigos que moram fora da região e não têm, portanto, ligação grande, ou próxima, com o tema. Você é o primeiro desconhecido, e aparentemente de Rondônia, que entra aqui e deixa seu registro. Seja bem-vindo (tenho escrito muito pouco, mas mesmo assim, seja bem-vindo)! Quem sabe com a participaçào de outras pessoas daqui de Rondônia a gente consiga sustentar discussões por mais tempo?

  8. Bom curioso hoje eu tenho 39 anos,quando eu tinha meus 17 anos eu estive aí garimpando no
    antigo garimpo do bom futuro isso em 1989 1990 é por aí muita gente vi morrer minha estoria é grande,mas hoje eu estava curioso olhando no mapas os lugares que já passei e vi suas fotos e lembrei que naquela época eu tive essa ideia e tirei algumas fotos mas eu as perdi ao longo dos anos gostaria de te contar mais dependendo da sua curiosidade certo meu endereço allansergiox@hotmail.com ;;;;Há pra te lembrar a maquina mencionada é gig e não dig abraços .

  9. OI, vi o site moro atualmente no garimpo Bom futuro e posso lhe afirma que a área de extração é muito pequena visto que a jazida é somente a serra,hoje atualmenta só existe um quinto do seu tamanho
    e logo se acabara pois já esta montado o maior britador do estado de RO .

  10. as fotos sao maravilhosas o comentario algumas correçoes ao inves de dics jig(s)resumidores para separar cassiterita do ferro do topazio do quartzo….depois em outro processo na separadora magnetica e por densidade geralmente na cidade

  11. Adorei ler essa experiência. Gostei dos depoimentos. Sou professora e seu post é de grande interesse pra mim. Abraços!

Deixar mensagem para Quequel Cancelar resposta